Poesia, filme coreano que pouco tempo ficou nas salas brasileiras, é uma experiência das mais poderosas do cinema recente. Tudo começa com a correnteza de um rio trazendo o corpo sem vida de uma jovem estudante.
Na sequência, somos apresentados a Mija, uma senhora de 60 e poucos anos que começa a manifestar os primeiros sinais de demência, ao mesmo tempo em que decide iniciar um curso de poesia. Em casa, ela cuida do neto, um típico adolescente emburrado e mal-agradecido, além de diariamente ajudar um senhor vítima de AVC.
Não demora muito para que saibamos que a jovem cometeu suicídio. Qual a relação dessa jovem com Mija? Alguns sites não hesitaram em revelar essa informação, mas o impacto será maior se você descobrir por você mesmo.
É estranho alguém achar que pode ensinar outra pessoa a escrever poesia, mas o que este professor faz, na verdade, é tentar estimular os alunos a observarem melhor o mundo ao redor e botar para fora o que existe nos seus corações. A senhora Mija começa a andar para cima e para baixo com um caderno, anotando tudo o que chama sua atenção. Às vezes ela parece ingênua quando faz certas perguntas ao professor, mas isso revela que ela tem algo a dizer, só não sabe como. Mija é uma pessoa bem humorada, quase sempre com sorriso no rosto quando conversa com os outros, mas ela fica totalmente fechada quando assuntos delicados estão em pauta. Queremos saber o que ela pensa em relação ao delicado tema central do filme, mas ela se mantém inatingível nesse sentido.
Poesia permite indagações sobre vários aspectos das relações humanas, sendo uma delas a seguinte: devemos proteger alguém da família ou devemos colaborar para que a justiça seja feita? Para uma pessoa de bem, qualquer uma das opções vem acompanhada de dolorosos resultados, mas só uma delas é moralmente correta.
Mija é uma das personagens mais fascinantes que tive o prazer de conhecer no cinema deste século. A força de vontade que ela demonstra para tentar escrever poesia e para botar um pouco de bom senso no neto são comoventes. Eis uma personagem inspiradora, que é interpretada com muita competência pela atriz Jeong-hie Yun. Todas as atitudes de Mija a fazem caminhar para uma resolução impactante, mas que não é esfregada na nossa cara. É tudo feito de uma maneira sutil, honesta, de um jeito que vamos para casa com a sensação de termos visto um exemplar perfeito do que o cinema deveria ser.
9/10
É um filme belíssimo, Bruno! E a solidão da personagem diante de fatos tão adversos me comoveu. Grande atriz!
Parecia que havia um escudo invisível que não deixava ela compartilhar com alguém as dificuldades. Talvez seja algo cultural, mas que é triste de ser ver, não existe dúvidas!
Que texto sensacional. Fiquei curiosa em relação ao filme, que ainda não conhecia!
Valeu Kamila!!! Assista e não deixe de escrever sobre ele!